Hm.
Costumava ser mais fácil escrever. Não sei por
quê. Acho que tem alguma coisa a ver com eu ter meio que me acostumado com as
coisas, ou só entendê-las de modo mais racional – o que nesse caso não é tão
bom assim, quer dizer, não é bom porque me faz escrever menos, considerando que
cuspir algumas palavras sempre me ajudou a ver o verdadeiro lado racional das
coisas. É estranho, como eu tenho passado mais tempo sozinho, mesmo estando
sempre com alguém ao meu lado – antes, quando acompanhado, eu e seja lá quem
estivesse comigo, sempre estávamos em algum tipo de conexão, seja pelo momento
compartilhado ou simplesmente por dividirmos aquele espaço no tempo por conta
de uma escolha deliberada. Hoje estou sempre com alguém, mas em um nível muito
mais superficial. Meu tempo de lazer se reduziu à metade e a compreensão dos
fatores que levam a essa conclusão não me consola. Faz menos de um mês que
comecei a trabalhar, e não me parece ser um mundo cheio de surpresas e aventuras.
Sei lá. A real é que no fundo eu sinto que não tenho problemas em me adaptar à
uma rotina desse tipo, o que é bom mas ao mesmo tempo me deriva a repulsiva ideia
de me ver acomodado, recuado e com medo de sair da minha zona de conforto e segurança,
nesse e em outros níveis. Por conta disso nasceu, ou melhor – cresceu e
amadurece - uma tendência de revisitar os núcleos de origem dos meus valores mais
fundamentais. Na minha condição de homo-sentimentallis, tenho imenso orgulho
da complexa simplicidade dos valores que vim a construir nesses recentes anos
de crucial amadurecimento, processo que mais de uma vez me surpreendeu por
compreender pequenas partes de mim em algo que me serve como mapa de ações e
decisões - porém ao me ter como organizador leva sempre o benefício da dúvida.
Enfim. Suturei meu futuro e agora quero esfolar o outro lado.
Completo 20 anos em menos de 1 hora e não tenho
absolutamente nada a dizer sobre isso. Talvez seja isso que me incomode – a maneira
como as coisas estão se tornando corriqueiras e os dias passam sem eu nem me
dar conta, de banho em banho, como costumo dizer – durante esse ritual,
executado todos os dias no mesmo local, da mesma maneira, à mesma luz, penso em
como as coisas se tornam familiares. Numa tentativa orgulhosa de resgatar a
singularidade de cada dia, rememoro tudo o que me fez chegar até ali, naquele
momento, e confesso uma sensação ligeiramente desesperadora quando chego à
mesma conclusão todos os dias – trabalho, almoço, faculdade, casa, banho, desespero,
repeat.
No fundo a gente sempre acha que sabe, e talvez
saiba mesmo. Se conseguíssemos ouvir o nosso primeiro instinto a respeito das
decisões que tomamos, seríamos infinitamente mais felizes. Mas as coisas são
interdependentes, e pra falar a verdade nem sei do que. Me sinto como se estivesse
sendo voluntariamente sugado para dentro desse processo de industrialização de
si mesmo, e isso me faz sentir um bosta em potencial.
Mas pra quem vê, até que eu superei as expectativas
quanto a onde estaria aos 20 anos. Sou feliz, tenho tudo o que preciso, quase
tudo o que quero e isso resulta em tédio. Talvez me falte ambição, talvez me
falte capacidade em reconhecer minha situação privilegiada, talvez eu só seja
imbecil. Sei que cansei de ter que procurar a beleza nas pequenas coisas, não
tenho tempo pra viver de poesia.
Seja lá o que for... Deixa estar que tudo vaidapé.
Feliz aniversário,
Love
x
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