19 de mai. de 2014

uma redação que eu escrevi na oitava série

e achei por aqui.



O oceano respirava em forma de ondas, cada uma mínima e maravilhosamente diferente da outra, numa tarde gélida e vazia, aquecida apenas pelas batidas rápidas do coração da menor das duas silhuetas paradas à beira mar. ‘Me sinto infinito’, disse o garoto. ‘o mar é infinito?’
O som do quebrar das ondas foi absorvido pelo longo silencio se decorreu. O garoto não se importava mais com o vento frio batendo impiedosamente contra seu pequeno rosto e o pai não conseguia parar de pensar se seu filho não gostaria de outro casaco ou de ir para um lugar mais aquecido, mas preferiu não deixar seus instintos paternos arruinarem um momento tão especial quanto este. A primeira visão do oceano através dos olhos inocentes de uma criança de 6 anos é tão especial, se não mais, do que seus primeiros passos. É como se uma nova noção de tamanho e vastidão fosse adicionada ao crescente banco de dados em suas mentes; é como se nada mais tivesse limite.
‘deveríamos ter vindo em um dia mais quente, com mais sol’, finalmente disse o pai.
‘não.. eu gosto assim’ replicou o menino.
O pai olhou para ele, um daqueles olhares em que os olhos parecem estar enfeitiçados. O menino retribuiu, mas quase involuntariamente seus olhos voltaram a focar o oceano que refletia o azul escuro das nuvens chuvosas.
A imensidão do oceano levava o pai cada vez mais a pensamentos nostálgicos. As viagens irresponsáveis com os amigos até a praia com apenas 50$ no bolso, se sentindo os homens mais ricos do mundo. A preocupação com detalhes que agora parecem insignificantes; memórias que seu filho ainda não teve a chance de criar. Olhou novamente para o garoto; nunca havia pensado que seria capaz de amar e se importar tanto com alguém. O homem que se sentira sozinho desde que descobriu o significado da palavra, por alguns instantes se sentiu completo. O filho abraçou o pai pelos 10 mais longos e apreciados segundos da vida do homem.

Pesados pingos de chuva irromperam no ar, penetrando as roupas quentes dos dois. O pai pegou o garoto pela mão e ambos andaram de volta para casa com um sorriso inocente e verdadeiro no rosto. 

3 de mai. de 2014

três de maio

trens, toques, manhãs e cigarros
pele cinzas e abraços
sinto que existo
para alem de mim e todo o resto que procuro que percebo que recebo ou tenho medo
dou bom dia ao momento crú
que me corta atravessado na memoria no gosto na pele dos calos de quem não se cala e está vivo pois conhece o desejo.