26 de out. de 2009

branco

Drogas demais, cara. Essas coisas fodem com você, as drogas, o sexo, e pior (e mais estressante) ainda – o quase sexo. Se você quiser a gente pode fingir que acredita que alguma coisa não é passageira. Argumento estúpido, justificativa desnecessária, mas tudo bem, se te faz sentir como uma pessoa melhor.
Tem coisas demais acontecendo lá fora, mas eu tou aqui dentro, por opção mesmo. Coisas demais fodem com você. Como desculpa pra evitar o exterior, me concentro no interior. Sabe como é, lidar com si mesmo é infinitamente mais fácil. Quando o seu eu te irrita, você, ele, tem toda a liberdade para se meter um soco na cara ou um corte no braço, sem precisar se desculpar depois.
Stress cara, stress. E o triste é saber que esse não é nem o prólogo do livro de contos que é/foi/está sendo a minha vida, essa brisa estranha.
Não acho mais certo me referir a mim como criança, kid, que seja. Mas fazer o que, se é o único jeito que eu conheço para me afastar de mim, do que eu não quero ser? Então, pessoa, admita a si mesmo que você cresceu, cresceu demais, rápido demais. Trem em movimento, lembra? Tudo vibra, cara, tudo vibra.
Então PÁRA. pára com tudo isso de se evitar. Desde o idioma em que você escreve até o jeito que arruma o óculos, na tentativa de desviar os olhos e pensar em algo que não seja nada. Não. É tudo. É você, pessoa, é você, eu, nós, somos, tudo. E como eu já disse, coisas demais fodem com você, e o que poderia ser mais-demais-do-que tudo?
“tudo” é coisa demais pra mim, pra você, pra nós. Então concluo que é por isso que a gente prefere se evitar. Tudo o que a gente, eu, tenho, tem, junto, causaria um sério problema de organização mental/espacial. Então se contente, me contento, com o pseudo nada.
Como o branco.

18 de out. de 2009

dez mais sete

Estilinho brasileiro, aquela bossa nova e aquele roquenrou, aquela viagem de adolescente mesmo.
Mesinha, cadeira, cerveja gelada e um maço de cigarros pela metade, as cinzas de seu antigo conteúdo espalhadas por ai. Conversa jogada fora, algumas dentro, algumas fora de hora, mas é assim que se segue o curso inconstante pra vida que me espera.
Dezessete anos, acredita? Tipo dez mais sete, lembra dos dez? Eu lembro de como a sala de casa era iluminada de um jeito diferente, talvez mais acolhedor. Ou quem sabe era só porque eu era menor e o mundo parecia tão grande. Mas lembro que não me assustava com isso. Muito pelo contrário, eu mal podia esperar pra cair nele. E agora tou aí, caindo no mundo, caindo na vida, com a mesma ansiedade de quando se é criança e se decide subir no trampolim mais alto da piscina do clube. Lembra da piscina do clube? Um bando de criança numa trama gigantesca pra conquistar o mundo que, mal sabíamos, acabaria sendo nosso por direito. Sensação louca aquela que bate no peito alguns milésimos de segundos depois que você decide pular. Talvez o tenha feito por pressão daqueles que estavam na fila me esperando, talvez não. Só sei que sentia medo, mas não o suficiente pra deixar alguém pegar a minha vez. ‘Subi até aqui e agora vou pular, mostrar pra todo mundo que o que eu quero, eu faço.’ Sensação louca mesmo. E agora cá estou, dezessete anos, me sentindo exatamente como me senti naquele dia. Dez mais sete, dezessete. Aprendi até a contar, veja só.

14 de out. de 2009

17, que?

I'm feeling rough, I'm feeling raw, I'm in the prime of my life
Let's make some music, make some money, find some models for wives
I'll move to Paris, shoot some heroin, and fuck with the stars
You man the island and the cocaine and the elegant cars

This is our decision, to live fast and die young
We've got the vision, now let's have some fun
Yeah, it's overwhelming, but what else can we do?
Get jobs in offices, and wake up for the morning commute?

Forget about our mothers and our friends
We're fated to pretend
To pretend
We're fated to pretend
To pretend

I'll miss the playgrounds and the animals and digging up worms
I'll miss the comfort of my mother and the weight of the world
I'll miss my sister, miss my father, miss my dog and my home
Yeah, I'll miss the boredom and the freedom and the time spent alone

There is really nothing, nothing we can do
Love must be forgotten, life can always start up anew
The models will have children, we'll get a divorce
We'll find some more models, everything must run its course.

We'll choke on our vomit and that will be the end
We were fated to pretend
To pretend
We're fated to pretend
To pretend

Yeah, yeah, yeah

Time To Pretend - MGMT


Daqui a meia hora abandono os 16 e rumo pros 17. estranho, legal, bizarro, roots, quem sabe..
é tudo uma brisa loca, essa história de viver e crescer. sei lá. vou seguindo de boa, de boa mesmo, no meu rolê e na minha brisa loca, absurda, adolescente, sem noção e inapropriada.
mas é assim que eu gosto.

love
x

8 de out. de 2009

meias molhadas

Merda de tênis de pano, merda de frio, merda de ônibus que não chega nunca, merda de miopia, merda de gotas no óculos, merda de vento, merda de chuva.
Meias molhadas: algo que todo paulistano que usa all-star já experienciou. É impressionante como meias molhadas afetam o seu humor e a sua moral. A cada gota gélida que cai no meu tênis, atravessando o tecido fino e encharcando o que já ta encharcado, minha alma sente uma pontada. Devo ter pego pneumonia ou algo assim. Merda de escolha estúpida de roupa essa manhã. Um casaco que só serve de enfeite e um tênis de pano. Que merda eu tenho na cabeça? Era só ter olhado pela janela, porra.
Mas que seja, chegar em casa, tomar um banho quente e vestir roupas limpas e sequinhas compensa tudo isso. Juro que não me importaria em pegar chuva todo dia, se depois fosse recompensado com essa sensação de bem-estar-pós-banho-quente-depois-da-chuva-fria-e-maldita-que-congela-a-alma.
Oi?

6 de out. de 2009

ah, uau.

Lendo no meu quarto, minha pequena fortaleza de paredes preenchidas com frases que, em algum momento, significaram algo pra mim, distraio meus ouvidos da voz melancólica e pesada de Thom Yorke e ouço chuva. Olho pela janela e vejo o céu azul. Que? É, isso mesmo, o céu, azul, sem nuvens. Me levanto e procuro as nuvens, e as encontro meio que pro oeste, mais pro norte, compondo um noroeste. Ah, uau. Nuvens bem escuras que justificam o barulho intenso que me distraiu da voz melancólica de Thom Yorke. Legal. A chuva para, eu volto a ler e de repente não consigo mais ler por falta de luz. Tudo bem, já li bastante hoje, vou esperar essa música acabar e ir comer alguma coisa. Desço da cama e olho pela janela de novo. Na frente do meu quarto tem uma árvore e um poste de luz, sabe, daqueles bem incandescentes que criam sombras estranhas quando o quarto ta escuro. Olhando pra essa luz, percebo dezenas, depois centenas e quem sabe milhares de bichinhos alados dançando desordenadamente no ar. Eram muitos, cara, muitos. Olhei pro leste, e o céu ainda tava azul. No oeste tava negro mesmo, por conta das nuvens, eu acho. Então foi isso: um quadro interativo musicado gigantesco composto pelo azul claro, o negro, a luz branca, os verdes da árvore, o amarelo das florzinhas que caíram dela, os bichinhos alados e a voz de Thom Yorke.
Eu até aumentei o volume.

4 de out. de 2009

porra

Querer mas não querer e sentir mas não entender. Puta que o pariu, como eu odeio não saber, mas também odeio decidir. E nessa brisa eterna de verbos abstratos eu sigo perdendo tempo que poderia ser gasto na resolução de tudo isso. Mas quem disse que eu quero resolver? Por mais que odeie essa minha ignorância, tenho medo de que a verdade seja pior do que ela, então foda-se. Parar de pensar? Esquece, essa história de que o tempo resolve não vale nada pra mim. O que resolve é a reflexão intensa e a não-perda de tempo com verbos abstratos, e adivinha só o que eu tou fazendo? Talvez eu não odeie a ignorância tanto assim.


So no regrets, and no looking back to sinking ships.
I'll strip the gauze for a rational self-analysis.
"I'm down. Cut and bound. Counting scars, and counting blessings loud."
So loud.
I must live to know that time alone is always healing as long as there's bleeding.
No regrets, or falling fits.
I'll strip the gauze and bleed it.


Hot Water Music – Remedy.

1 de out. de 2009

volta pra casa

O mesmo ônibus de sempre, o mesmo horário e as mesmas pessoas fazendo as mesmas coisas. Fácil de ignorar, e eu geralmente ignoro, mas hoje decidi reparar. Não interpretar ou supor, só reparar.
Teve o roxo que quase esbarrou com o roxo claro, mas depois seguiram em direções opostas enquanto eu fiquei no mesmo lugar. Transito, sempre; São Paulo.
Tiveram as crianças com olhares nem tão inocentes quanto se esperaria, não tanto crianças e sim projetos de gente grande imitando coisas que deveriam repudiar, mas eu fazia igual. É assim que se aprende a viver, acho. E pensando agora, faz pouco tempo que eu aprendi a viver, se é que aprendi. Bom, faz pouco tempo que eu entendi o que é viver, e sabe, é bem legal. Mas isso só se percebe depois de horas no transito da cidade colorida-acinzentada em dias de sol. Hoje tava nublado, mas meu bom humor criou espectros de cores bem legais de se observar. Minha volta pra casa, meu horário sagrado, organizador de pensamentos e comparável com uma boa noite de sono. São as duas partes do dia em que eu me permito a total e completa exclusão da sociedade – a ida pra aula e a volta pra casa. Sou só eu, meus fones de ouvido e meu passo rítmico acompanhando a música inconscientemente. Me faz bem, a solidão auto-induzida, e eu não gosto quando encontro alguém no ponto ou quando alguém decide conversar comigo durante essas horas, que talvez não sejam as melhores do dia, mas provavelmente as mais importantes - parte crucial do meu modelo de organização mental.

tropecei

Quando andava pra pegar o ônibus. Olhei com cara feia pro buraco, acariciei o tornozelo e segui andando. Acho que ninguém viu.
Tá frio, tá frio mesmo, mas tudo bem, eu tou em casa, é quente aqui, e eu me sinto bem quando ouço música. Tou bem.
E relutante, mas sou sempre assim. Ultimamente (e eu não sei quando começou) quando eu libero minha mente para o ócio, tudo o que vem à ela é a repetição cansativa das palavras ‘sei lá’. E não sei mesmo, de nada, e isso me confunde. Mas tudo me confunde, então tá tudo bem. Eu tou bem, e como todas as outras coisas que eu acho que estou, talvez não passe de uma suposição, de uma vontade ou algo do tipo.. de querer ser algo que eu não sou. Mas também não sei o que seria isso, então melhor parar de pensar.
Ah merda, aí vêm elas de novo.. sei lá.

E você só era mais quente mesmo.

escova de dentes

É por causa do nascer do sol visto de uma janela que não é a minha que eu sempre deixo uma escova de dentes na mochila.
Adoro essas noites que derrepente viram dias, mas o sol esquenta demais. Era mais legal no frio, eu podia te abraçar com a desculpa de que você me esquentava. Só é chato a parte que eu não sei porque que você, bem você, me esquentava mais do que os outros. Sei lá, melhor eu não tentar entender outras coisas agora que entendi as minhas coisas. Quem sabe você é só mais quente que os outros mesmo, e mesmo se não for, é assim que eu prefiro acreditar.
Você não tem a mínima idéia do quanto isso é estranho, e acho que nem eu. Mas agora já foi, então preciso me adaptar ao meu novo eu. Porque é assim que eu quero, e é assim que vai ser.
Só isso.