29 de dez. de 2009

the breaking point

Sempre me interessei muito por isso. Pelo momento máximo, pelo instante em que uma coisa chega ao seu extremo e está prestes a explodir. Gostava de assistir vídeos em câmera lenta de coisas quebrando, esticava um elástico só pra olhar de perto o momento em que ele arrebentava. Então percebi que o Breaking Point se estende também para pessoas. Mesmo a violência gratuita não é completamente gratuita. Quem nunca ficou entediado na escola e decidiu jogar algo no colega de sala? Isso acontece no momento em que o tédio não pode mais ser controlado por forças internas, e você precisa extravasá-lo de alguma maneira. O problema é quando o stress e a raiva precisam ser extravasados. Porque, humanos socialmente conscientes como somos, sabemos que não podemos sair por ai quebrando coisas, socando rostos e amaldiçoando os céus. Somos forçados a uma repressão emocional, que quando vê uma porta de saída corre por ela e, cegada pela luz, não vê o que vem depois.
Então, lembre sempre de encontrar, regularmente, um jeito eficaz de liberar tudo o que tem dentro de você. Entre num mosh-pit, compre um saco de pancadas, faça aulas de boxe, qualquer coisa que não deixe a raiva e o stress se acumularem até o Breaking Point. Pois uma vez lá, fica difícil voltar atrás.

22 de dez. de 2009

sobre o sentido do sem sentido

Tem horas em que o poder de harmonizar trazido pela simplicidade das coisas me chama a atenção.
É o jeito como tudo se encaixa logo após um jantar calmo em família, no qual se fala do dia de cada um de seus membros, de como a decoração de natal da Av. Paulista está encantadora e de como o cachorro do vizinho late demais. Algumas risadas, acusações irônicas e sobremesa com calda de chocolate.
Minha mãe vai dançar jazz, meus avós vão assistir a novela e eu venho fumar um cigarro, ouvir uma música e olhar o pôr-do-sol, que nunca é igual mas sempre faz sentido.
Lembro de como a casa estava tensa ontem, e de como essa tensão pesou mais depois do jantar quieto e desconfortável, no qual evitávamos nos olhar diretamente. Vim escrever na tentativa de entender o porque, mas acho que não tem que fazer sentido mesmo.
Estrutura familiar é uma coisa estranha e extremamente mutável, uma convivência diária que desgasta, e acho que não se pode esperar uma constância muito grande. Temos dias e dias, e nem todos são agradáveis, mas fica tudo bem depois do jantar, agradável, calmo e com sobremesa com calda de chocolate.

strip the gauze for a rational self-analysis

É o copo sujo, o cinzeiro cheio, o ventilador em potência máxima e o grito preso a meses dentro do peito. É a escolha de reação, é a manifestação dela, é a dor, o sangue e o curativo, misturado com a sensação de arrependimento por ser tão idiota.
Hora de mudar velhos hábitos, velhas escolhas as quais sou condicionada, como se estivessem em destaque no meu menu mental.
Estranho como a necessidade de mudança só é percebida quando as coisas passam do plano psicológico pro físico.

19 de dez. de 2009

motim

Meu deus, alguém me responde por que é que eu não sinto mais nada direito?
Sempre senti tudo ao extremo, me afundava quando poderia só boiar, voava descontroladamente quando poderia só planar, mas não mais. Eu não sinto mais nada, não sinto felicidade, não sinto tédio ou tristeza. Só de vez em quando, quando tenho sorte, me invade uma raiva intensa que eu levo até o fundo.
Daí você me aparece desse teu jeito lindo que me machuca demais, e isso eu sinto, e isso não me dá raiva, e isso me confunde. Confusão é um sentimento? Porque se for, ta tudo de volta ao normal, eu me afogando e você pulando na água pra me resgatar. Pena que dessa vez eu tou me afogando em você, e pena que nessa metáfora você não sabe nadar.

14 de dez. de 2009

sharing different heartbeats

One night to be confused
One night to speed up truth
We had a promise made
Four hands and then away

Both under influence
We had divine sense
To know what to say
Mind is a razorblade

To call for hands of above
To lean on
Wouldn't be good enough
For me, no

One night of magic rush
The start a simple touch
One night to push and scream
And then relief


Sinto falta de quando eu sentava no murinho, acendia teu cigarro, você deitava no meu colo e nossas mentes viajavam em sintonia. Projetos de gente, contanto no apoio um do outro pra construir as fundações da coisa complexa e, de certo modo, genial que nos tornamos hoje. Eu achava engraçado e não entendia direito quando os nossos olhares se encontravam, e preferia não fazer nada. Hoje em dia me arrependo da minha insegurança adolescente e você sabe muito bem disso. De vez em quando tento me redimir, mas ambos sabemos que aquela conexão estranha se fechou no dia em que não acabei aquela frase, que você sabia o final mas também não completou. Ficou só um oquefoiquevocêdisse no ar, sem resposta. Passei alguns bons dias e perdi umas boas horas de sono me perguntando porque, mas acho que não era pra acontecer mesmo. Com a gente foi sempre assim, o que rolava rolava, e o que não rolava tinha um bom motivo pra isso.
Será que hoje seria igual? Acho que não, tudo mudou, você mudou demais, e eu (prefiro acreditar que) nem tanto, mas saiba que te gosto muito, mesmo.
Mesmo.

22:22

Porra.
Eu, o silêncio e a música temos uma relação bem complicada. Preciso do silêncio pra ouvir música e não gosto do silêncio sem música.
Entende?

8 de dez. de 2009

leis da física

Seja lá quem foi que disse que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo, tem a minha gratidão. Porque ela esbarrou em mim, e não nos atravessamos. Foi pele na pele e ela parou, ela me olhou. Eu parei, olhei de volta até despertar aquela sensação chata de invasão de privacidade interna, sabe, quando o olho mira bem fundo no outro olho? Parecia que ela sabia exatamente o que eu pensava, e que ensaiava uma resposta para o texto tosco rapidamente elaborado pela situação de desconforto. ‘desculpa, você ta bem?’. ‘Tou bem. Você ta bem?’. ‘Tou sim.’ Sorriso, sorriso, desvio de olhares, toque leve no braço, arrepio. Chega mais perto. Adorei desvendar teu olhar. Nada como uma comunicação por ondas cerebrais bem-sucedida: tou ficando bom nisso. Ela chegou mais perto. Você.. tá com ela né? Ou com ela? Adorei tua boca, será que você quer uma bebida? ‘você quer uma bebida?’ ‘ah, não.’ ‘Ah, ok, legal.’ Mas esse jogo de olhares começava a me cansar. ‘olha, vem cá’. Minhas mãos no braço dela aumentaram a superfície de contato, diminuindo exponencialmente a capacidade de reação. Acho que foi por isso que ela chegou mais perto e imagino que também tenha sido por isso que ela cansou de esperar e fez o primeiro movimento.
Juro que algum dia aprendo a controlar os músculos.

2 de dez. de 2009

ausência.

E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
- Vinicius de Moraes.


Para Mandy.

Consegui escrever sobre isso uma única vez, a exatamente um ano atrás. Depois disso me esforcei ao máximo para transformar todas as memórias em coisas boas, positivas, pra que eu só me lembrasse de você de um jeito bom. Acho que consegui, mas não sei como. Ainda é difícil pra mim, de verdade. Sempre que lembro de você tento pensar em qualquer outra coisa, num instinto puramente humano de correr na direção oposta à dor.
Acho estranho demais, muito, muito mesmo. Um ano, um ano cheio de acontecimentos dos quais você deveria ter feito parte, 365 dias sem ter passado um único em que eu não pensei em você. Sei lá. Esse é o tipo de coisa para qual não se tem pensamentos, imagine palavras, para explicar. Ainda dói e eu sei que vai doer por um tempo.
A sua ausência me cerca, cara, de um jeito estranho e complicado, mas do qual eu nunca quero me livrar..

1 de dez. de 2009

idiota

Tou afim de escrever, sei muito bem o que mas não sei como e nem se posso.
Não tou bem, faz tempo, mas esse é o tipo de coisa que necessita de um estopim pra ser percebida. Não entendi muito bem o que aconteceu hoje; foi um dia confuso, mas o inchaço ridículo nos ossos da minha mão direita indicam que alguma coisa ta muito errada.
Sabe quando se chega naquele ponto em que você não se importa com mais absolutamente nada? Tou vivendo por inércia, no contra-fluxo dos meus ideais e noções de como se deve viver.
Me sinto errado.

22 de nov. de 2009

após

Lá, no fundo. Passou a parte irritante, a parte complexa, a parte simples, a parte nonsense, passou a razão, cortou a comunicação. No fundo, de tudo, algo que não devia estar lá.
Cansaço, poderia ser isso? Mas não é.
Vontade? Quem sabe. Do que? Não se sabe.
Lá no fundo é escuro e nossos olhinhos humanos não foram treinados pra isso, nossa razão não foi treinada pra auto-compreensão. No fundo.
Tou triste, tou sozinho. Quantos clichês, que saco de sentir, que saco de ler, né não? Sei que é, odeio. Raiva, minha velha teoria inimiga elaborada aos treze anos: tudo acaba em raiva. Do que? Não se sabe, mas odeio.
E como.

dissonante

- i'm in a quite good moment to escape
- cool
- might be
- seems to be
- should be..
- then it is
- then it is..
- until seeing that escaping is just another easy way to avoid it
- right?
- right
- but.. now that you're here.. you might as well go too far.
- so just go for it.

just go for it.

(não gosto de postar em inglês.)

15 de nov. de 2009

ponto ponto

Ponto
Contraponto.

‘Um. Dois. Três. Agora.’ E nada. Nada, cara, por que não? Já era a vigésima vez que contava até três, na tentativa de causar algum movimento, um espasmo muscular que fosse, algo que impulsionasse aquele corpo tenso, embriagado e jovem em direção ao outro de estado, imaginava, igual. Tudo incomodava, o tapete cinza, a fumaça branca no ar, a maldita música que não acabava nunca. ‘bom esse CD né? ‘é, um dos meus preferidos.’. silencio, de novo. Um, dois, três. Nada. Criança metida a gente grande, achando que manda no mundo quando nem mesmo o controle de seus próprios músculos dominou. Tentou lembrar de alguma história pra contar, algo que a fizesse rir, algo que a fizesse notar sua existência como algo além da simples existência. Nada, seguido pelo um, dois, três, e novamente pelo nada. Imaginava o que, meu deus, o que estava impedindo o impulso nervoso de chegar aos músculos. Tentou culpar o álcool, o fumo, a temperatura do quarto, o ar pesado, os planetas, até que percebeu que tudo isso não passava de uma simples e desnecessária tentativa de desviar sua mente da futura sensação de fracasso, que seria certa a não ser que fizesse o Agora valer. Um, dois, três. Até deixou escapar um ‘que se foda.’. E foi.

9 de nov. de 2009

sem vento

Tédio, não por falta do que fazer
Sim por falta do que curtir
Do que amar, do que guardar
Do que mergulhar de cabeça
Sem medo e sem rancor

Cansado, de ficar sempre no limite
Entre o caos e a previsibilidade
Estranho, digamos assim
Esse meu jeito contraditório
De bêbado equilibrista

Trancado, num quarto de janelas abertas
Esperando a vida entrar
Algo pra curtir, algo pra amar
Qualquer coisa que eu possa guardar
Qualquer coisa construtiva
Quem sabe até mesmo destrutiva.

8 de nov. de 2009

entre umas e outras

Luzes piscantes e frenéticas de um lugar desconhecido fazem muito mais do que simplesmente confundir o sentido da visão. Afetam todos os 5 e também um sexto – a percepção de si mesmo e a sua influência sobre o meio, assim como a influência que o meio exerce em você. Tudo fica confuso e sinais ficam mal interpretados, mas a gente continua pagando pra entrar, beber e dançar. É que sobriedade demais faz mal, cara.

Contradições espaciais
, eu sei lá? Preguiça de escrever, tou cansada, levei um chute que ainda dói. E não é metáfora não. Tem dias em que o mundo conspira contra tudo o que você quer, mas ceder à uma simples maré de azar é coisa de perdedor. Legal mesmo é tomar chuva, levar chute, pisar na lama, ser erroneamente acusado, perder dinheiro e uma pontinhazinha do ego. Ego eu tenho demais, então pode levar. Quem sabe eu viro uma pessoa mais bacana pra essa coisa toda de vida em sociedade, né não?

Mas até que fez sentido, porque fazia tempo que alguma coisa não fazia sentido.
Pelo menos foi isso que ela disse.

3 de nov. de 2009

terça-feira

Isso, vai, senta direitinho, daquele jeito que nem parece ensaiado. Fuma seu cigarrinho vai, daquele jeito que você aprendeu observando toda aquela gente bacana. Afinal, o que é um câncer pra quem tem umas cem provas e trabalhos e anos de vida (que não prometem nada além de um contínuo aumento dos níveis de stress) pela frente? Nada, a gente é jovem, cai, quebra a cara e alguns ossos e em dois meses tá de volta com tudo né?
É – tou dando a cara a tapa mesmo. Vá em frente, vem com tudo. Depois da décima vez que você a encontra caída no chão, dor vira uma coisa até que engraçada, quase prazerosa.
Afinal, por que outro motivo eu continuaria te encarando com um sorriso irônico e babaca se não gostasse de levar uns belos duns tapas?
Pergunta obviamente retórica.

26 de out. de 2009

branco

Drogas demais, cara. Essas coisas fodem com você, as drogas, o sexo, e pior (e mais estressante) ainda – o quase sexo. Se você quiser a gente pode fingir que acredita que alguma coisa não é passageira. Argumento estúpido, justificativa desnecessária, mas tudo bem, se te faz sentir como uma pessoa melhor.
Tem coisas demais acontecendo lá fora, mas eu tou aqui dentro, por opção mesmo. Coisas demais fodem com você. Como desculpa pra evitar o exterior, me concentro no interior. Sabe como é, lidar com si mesmo é infinitamente mais fácil. Quando o seu eu te irrita, você, ele, tem toda a liberdade para se meter um soco na cara ou um corte no braço, sem precisar se desculpar depois.
Stress cara, stress. E o triste é saber que esse não é nem o prólogo do livro de contos que é/foi/está sendo a minha vida, essa brisa estranha.
Não acho mais certo me referir a mim como criança, kid, que seja. Mas fazer o que, se é o único jeito que eu conheço para me afastar de mim, do que eu não quero ser? Então, pessoa, admita a si mesmo que você cresceu, cresceu demais, rápido demais. Trem em movimento, lembra? Tudo vibra, cara, tudo vibra.
Então PÁRA. pára com tudo isso de se evitar. Desde o idioma em que você escreve até o jeito que arruma o óculos, na tentativa de desviar os olhos e pensar em algo que não seja nada. Não. É tudo. É você, pessoa, é você, eu, nós, somos, tudo. E como eu já disse, coisas demais fodem com você, e o que poderia ser mais-demais-do-que tudo?
“tudo” é coisa demais pra mim, pra você, pra nós. Então concluo que é por isso que a gente prefere se evitar. Tudo o que a gente, eu, tenho, tem, junto, causaria um sério problema de organização mental/espacial. Então se contente, me contento, com o pseudo nada.
Como o branco.

18 de out. de 2009

dez mais sete

Estilinho brasileiro, aquela bossa nova e aquele roquenrou, aquela viagem de adolescente mesmo.
Mesinha, cadeira, cerveja gelada e um maço de cigarros pela metade, as cinzas de seu antigo conteúdo espalhadas por ai. Conversa jogada fora, algumas dentro, algumas fora de hora, mas é assim que se segue o curso inconstante pra vida que me espera.
Dezessete anos, acredita? Tipo dez mais sete, lembra dos dez? Eu lembro de como a sala de casa era iluminada de um jeito diferente, talvez mais acolhedor. Ou quem sabe era só porque eu era menor e o mundo parecia tão grande. Mas lembro que não me assustava com isso. Muito pelo contrário, eu mal podia esperar pra cair nele. E agora tou aí, caindo no mundo, caindo na vida, com a mesma ansiedade de quando se é criança e se decide subir no trampolim mais alto da piscina do clube. Lembra da piscina do clube? Um bando de criança numa trama gigantesca pra conquistar o mundo que, mal sabíamos, acabaria sendo nosso por direito. Sensação louca aquela que bate no peito alguns milésimos de segundos depois que você decide pular. Talvez o tenha feito por pressão daqueles que estavam na fila me esperando, talvez não. Só sei que sentia medo, mas não o suficiente pra deixar alguém pegar a minha vez. ‘Subi até aqui e agora vou pular, mostrar pra todo mundo que o que eu quero, eu faço.’ Sensação louca mesmo. E agora cá estou, dezessete anos, me sentindo exatamente como me senti naquele dia. Dez mais sete, dezessete. Aprendi até a contar, veja só.

14 de out. de 2009

17, que?

I'm feeling rough, I'm feeling raw, I'm in the prime of my life
Let's make some music, make some money, find some models for wives
I'll move to Paris, shoot some heroin, and fuck with the stars
You man the island and the cocaine and the elegant cars

This is our decision, to live fast and die young
We've got the vision, now let's have some fun
Yeah, it's overwhelming, but what else can we do?
Get jobs in offices, and wake up for the morning commute?

Forget about our mothers and our friends
We're fated to pretend
To pretend
We're fated to pretend
To pretend

I'll miss the playgrounds and the animals and digging up worms
I'll miss the comfort of my mother and the weight of the world
I'll miss my sister, miss my father, miss my dog and my home
Yeah, I'll miss the boredom and the freedom and the time spent alone

There is really nothing, nothing we can do
Love must be forgotten, life can always start up anew
The models will have children, we'll get a divorce
We'll find some more models, everything must run its course.

We'll choke on our vomit and that will be the end
We were fated to pretend
To pretend
We're fated to pretend
To pretend

Yeah, yeah, yeah

Time To Pretend - MGMT


Daqui a meia hora abandono os 16 e rumo pros 17. estranho, legal, bizarro, roots, quem sabe..
é tudo uma brisa loca, essa história de viver e crescer. sei lá. vou seguindo de boa, de boa mesmo, no meu rolê e na minha brisa loca, absurda, adolescente, sem noção e inapropriada.
mas é assim que eu gosto.

love
x

8 de out. de 2009

meias molhadas

Merda de tênis de pano, merda de frio, merda de ônibus que não chega nunca, merda de miopia, merda de gotas no óculos, merda de vento, merda de chuva.
Meias molhadas: algo que todo paulistano que usa all-star já experienciou. É impressionante como meias molhadas afetam o seu humor e a sua moral. A cada gota gélida que cai no meu tênis, atravessando o tecido fino e encharcando o que já ta encharcado, minha alma sente uma pontada. Devo ter pego pneumonia ou algo assim. Merda de escolha estúpida de roupa essa manhã. Um casaco que só serve de enfeite e um tênis de pano. Que merda eu tenho na cabeça? Era só ter olhado pela janela, porra.
Mas que seja, chegar em casa, tomar um banho quente e vestir roupas limpas e sequinhas compensa tudo isso. Juro que não me importaria em pegar chuva todo dia, se depois fosse recompensado com essa sensação de bem-estar-pós-banho-quente-depois-da-chuva-fria-e-maldita-que-congela-a-alma.
Oi?

6 de out. de 2009

ah, uau.

Lendo no meu quarto, minha pequena fortaleza de paredes preenchidas com frases que, em algum momento, significaram algo pra mim, distraio meus ouvidos da voz melancólica e pesada de Thom Yorke e ouço chuva. Olho pela janela e vejo o céu azul. Que? É, isso mesmo, o céu, azul, sem nuvens. Me levanto e procuro as nuvens, e as encontro meio que pro oeste, mais pro norte, compondo um noroeste. Ah, uau. Nuvens bem escuras que justificam o barulho intenso que me distraiu da voz melancólica de Thom Yorke. Legal. A chuva para, eu volto a ler e de repente não consigo mais ler por falta de luz. Tudo bem, já li bastante hoje, vou esperar essa música acabar e ir comer alguma coisa. Desço da cama e olho pela janela de novo. Na frente do meu quarto tem uma árvore e um poste de luz, sabe, daqueles bem incandescentes que criam sombras estranhas quando o quarto ta escuro. Olhando pra essa luz, percebo dezenas, depois centenas e quem sabe milhares de bichinhos alados dançando desordenadamente no ar. Eram muitos, cara, muitos. Olhei pro leste, e o céu ainda tava azul. No oeste tava negro mesmo, por conta das nuvens, eu acho. Então foi isso: um quadro interativo musicado gigantesco composto pelo azul claro, o negro, a luz branca, os verdes da árvore, o amarelo das florzinhas que caíram dela, os bichinhos alados e a voz de Thom Yorke.
Eu até aumentei o volume.

4 de out. de 2009

porra

Querer mas não querer e sentir mas não entender. Puta que o pariu, como eu odeio não saber, mas também odeio decidir. E nessa brisa eterna de verbos abstratos eu sigo perdendo tempo que poderia ser gasto na resolução de tudo isso. Mas quem disse que eu quero resolver? Por mais que odeie essa minha ignorância, tenho medo de que a verdade seja pior do que ela, então foda-se. Parar de pensar? Esquece, essa história de que o tempo resolve não vale nada pra mim. O que resolve é a reflexão intensa e a não-perda de tempo com verbos abstratos, e adivinha só o que eu tou fazendo? Talvez eu não odeie a ignorância tanto assim.


So no regrets, and no looking back to sinking ships.
I'll strip the gauze for a rational self-analysis.
"I'm down. Cut and bound. Counting scars, and counting blessings loud."
So loud.
I must live to know that time alone is always healing as long as there's bleeding.
No regrets, or falling fits.
I'll strip the gauze and bleed it.


Hot Water Music – Remedy.

1 de out. de 2009

volta pra casa

O mesmo ônibus de sempre, o mesmo horário e as mesmas pessoas fazendo as mesmas coisas. Fácil de ignorar, e eu geralmente ignoro, mas hoje decidi reparar. Não interpretar ou supor, só reparar.
Teve o roxo que quase esbarrou com o roxo claro, mas depois seguiram em direções opostas enquanto eu fiquei no mesmo lugar. Transito, sempre; São Paulo.
Tiveram as crianças com olhares nem tão inocentes quanto se esperaria, não tanto crianças e sim projetos de gente grande imitando coisas que deveriam repudiar, mas eu fazia igual. É assim que se aprende a viver, acho. E pensando agora, faz pouco tempo que eu aprendi a viver, se é que aprendi. Bom, faz pouco tempo que eu entendi o que é viver, e sabe, é bem legal. Mas isso só se percebe depois de horas no transito da cidade colorida-acinzentada em dias de sol. Hoje tava nublado, mas meu bom humor criou espectros de cores bem legais de se observar. Minha volta pra casa, meu horário sagrado, organizador de pensamentos e comparável com uma boa noite de sono. São as duas partes do dia em que eu me permito a total e completa exclusão da sociedade – a ida pra aula e a volta pra casa. Sou só eu, meus fones de ouvido e meu passo rítmico acompanhando a música inconscientemente. Me faz bem, a solidão auto-induzida, e eu não gosto quando encontro alguém no ponto ou quando alguém decide conversar comigo durante essas horas, que talvez não sejam as melhores do dia, mas provavelmente as mais importantes - parte crucial do meu modelo de organização mental.

tropecei

Quando andava pra pegar o ônibus. Olhei com cara feia pro buraco, acariciei o tornozelo e segui andando. Acho que ninguém viu.
Tá frio, tá frio mesmo, mas tudo bem, eu tou em casa, é quente aqui, e eu me sinto bem quando ouço música. Tou bem.
E relutante, mas sou sempre assim. Ultimamente (e eu não sei quando começou) quando eu libero minha mente para o ócio, tudo o que vem à ela é a repetição cansativa das palavras ‘sei lá’. E não sei mesmo, de nada, e isso me confunde. Mas tudo me confunde, então tá tudo bem. Eu tou bem, e como todas as outras coisas que eu acho que estou, talvez não passe de uma suposição, de uma vontade ou algo do tipo.. de querer ser algo que eu não sou. Mas também não sei o que seria isso, então melhor parar de pensar.
Ah merda, aí vêm elas de novo.. sei lá.

E você só era mais quente mesmo.

escova de dentes

É por causa do nascer do sol visto de uma janela que não é a minha que eu sempre deixo uma escova de dentes na mochila.
Adoro essas noites que derrepente viram dias, mas o sol esquenta demais. Era mais legal no frio, eu podia te abraçar com a desculpa de que você me esquentava. Só é chato a parte que eu não sei porque que você, bem você, me esquentava mais do que os outros. Sei lá, melhor eu não tentar entender outras coisas agora que entendi as minhas coisas. Quem sabe você é só mais quente que os outros mesmo, e mesmo se não for, é assim que eu prefiro acreditar.
Você não tem a mínima idéia do quanto isso é estranho, e acho que nem eu. Mas agora já foi, então preciso me adaptar ao meu novo eu. Porque é assim que eu quero, e é assim que vai ser.
Só isso.