28 de abr. de 2010

tempo livre

Desenvolver o pensamento, afastar a sobriedade
Restaurar os neurônios que perdi pra essa cidade
E como desgasta o esforço mental
Doze horas encarcerado no mesmo local
Ir pra casa é uma dessas coisas que não tem preço
Acender um do bom pra ver se me esqueço
De todas as inutilidades que disfarçadas de fatos
Se provam tão desnecessárias, quase mais que um infarto
Do meu pensamento, que se afasta do momento
Se aloja na noite fria, jogado ao relento
Duma cidade sem sentido, de um povo sem pátria
Minha versão de capital
Meu país tropical, abençoado por deus
Esquecido pelos líderes que disseram adeus
Ando na psicodelia, ponto de encontro do mundo
Dimensão aparte, eterno lapso de um segundo
Buraco na consciência, contemplo a existência
Me apresso, perco a paciência até que me lembro
Que a razão da minha presença está guardada na essência
De ser mil dentro de um, mas sou só um dentro de mil
Dos filhos deste solo que és mãe gentil
Outro moleque do Brasil
Criado pra sentir no couro, nunca ver o ouro
Seguir magro, firme e fraco, algo raramente novo
Dia a dia correria, toda hora um novo esporro
Tapa na cara do suposto futuro do meu povo.

25 de abr. de 2010

teia sinestésica

Sentir teu beijo na teia melódica
Sentir tua alma nos extremos nervosos
Me fazer parte de ti
Te fazer parte de tudo
Me arranca de sono profundo
Me joga em viagem de ácido
Pauta sinestésica, falta de ar
Excesso de ar.
Sangue ácido, corpo além, estado aparte
Disritmia puramente melódica.
Tempo, contratempo, tempo
Compasso completo.
Me faz som, me desenha
Viro cor, viro onda
Sou tudo
Somos.

24 de abr. de 2010

x

G|---------------6---4--------------------|
D|-------0h4-5-0---7---5-----5-----------|
A|-----4-----------------5h7---5-----9---|
E|-0h5---------------------------5-7------|

Ad infinitum.


(porque o sentimento que a música provoca não pode ser reproduzido em palavras)

20 de abr. de 2010

hidropônica

Ok, acho que as coisas meio que param, quer dizer, não param, mas atingem um estado de conforto máximo (que nesse caso não é ruim não), que não demanda nenhum tipo de análise.
Porque escrever quando se está triste é fácil, quero ver é quem consegue quando está feliz.
Especialmente se for por causa de alguém, aí sim quero ver quem consegue escrever sobre alguma coisa que não seja o outro. Seria muito fácil divagar por páginas e mais páginas sobre todas as coisinhas, sinceramente estúpidas, que se tornam geniais vistas pelos olhos do apaixonado. Criar, não sei até que ponto esse ato é válido. Alguma coisa precisa ser munição, caso contrário não importa quantas vezes o gatilho seja apertado, nada acontece. Então: como conciliar o amor com a arte? O efeito entorpecente do amor age diretamente sobre a capacidade de criar em cima (ou continuar a brisa inicial) de qualquer coisa (que não seja, é claro, o próprio amor), e é por isso que, inúmeras vezes, me encontrei olhando para a página em branco odiando o amor.
Mas como odiar algo que te faz esquecer de tudo o que você odeia? Agindo como uma síntese organizada do ódio, o amor preencheu as lacunas deixadas pela corrosão causada por possíveis sentimentos nunca promovidos à um nível analisável. Então, digamos que, de certo modo, eu tenha me permitido sentir tudo, porém não antes de uma filtragem muito, muito cuidadosa.
Que contraditório.


Brisei.

15 de abr. de 2010

gritando

pretendo utilizar o que me faz bem
pra preencher minha falta estrutural
pra manter
minha
respiração.

,
)
\

7 de abr. de 2010

eis a questão

Uma breve sensação de ser infinito, de ser ar, gravidade, matéria, energia, livre, planar sobre ondas sonoras deixando um rastro de luz e uma impressão digital a cada mudança de compasso. Se libertar do eu, se libertar do corpo, ser alma ou qualquer coisa que você atribua à presença, estado, sentido, existência.
Ar da noite, quanto mais frio mais real, vento cortante, estimulante, pulso que acalma e dispersa os sentidos, liberta, revoluciona!
Revolução interna, sem sangue. Ebriedade vinda direto do gargalo que é o centro nervoso, entorpecido com o peso da não necessidade de se processar informações. Não processe, não entenda, só esteja lá, esteja aqui, em todos os lugares, em todos os sons e em todos os ventos. Tudo.

3 de abr. de 2010

soco

Depois que se lê duas páginas de um livro (pago uma cerveja pra quem, até o final do post, adivinhar qual) e percebe-se que não faz a menor idéia do que acabou de ler, ai sim que fica nítido como a imagem dela simplesmente não consegue deixar sua cabeça. Porque ela é linda, tem um toque lindo que ecoa até o fundo da alma. Toque. Tenho uma fome insaciável por tocar e ser tocado em todos os lugares que as mãos alcançam, e ela tem o modelo mais tocável de corpo que eu consigo imaginar.
‘a sensualidade é a mobilização máxima dos sentidos: observa-se o outro intensamente, procurando captar seus menores ruídos’

Quando leio sinto como se trilhas novas estivessem sendo abertas na selva dos meus pensamentos, como que para facilitarem a chegada a um entendimento comum. Algo do tipo.

Também queria entender por que sempre que leio algo em primeira pessoa, ou em terceira, mas numa narração que cave fundo nos motivos, é absolutamente impossível para mim sentir qualquer tipo de antipatia pelo personagem.

Entendo muitas coisas, e isso me confunde e me assusta, porque quando entendemos é possível ou imprescindível que, em algum nível, nos relacionemos com o que nos faz sentido. Então acho que concluo que tenho muitas, muitas coisas dentro de mim, que só recebem atenção quando são atiçadas por um fator exterior, como por exemplo, a leitura de algo que pode se tornar uma verdade própria.

‘a beleza por engano é o último estado da história da beleza.’ Não sei se concordo.

Afinal, eu concluo que, se não fosse ela, quem mais seria? Tem coisas que se encaixam e se completam, se remodelam em alguns pontos mas mantém a essência para continuar a execução (no sentido de fazer acontecer) da influência.

E é fato que o que nos empurra e nos leva à evolução ou glória ou qualquer outra coisa geralmente vista como positiva, é a atração pelo desconhecido. Porque não sabemos como é ser herói e nem como é ser feliz. Procurarmos conhecer tudo o que nos é mencionado, e é isso que faz as coisas mudarem. E é por isso que eu amo.

semi bloqueio

É difícil produzir alguma coisa meramente criativa quando a sua mente só tem uma coisa em pauta, juro. Mas, divaguemos:
Apoio a teoria de que o seu estado de espírito em um dia já está decidido mesmo antes de você acordar. Hoje, por exemplo: o primeiro som captado pelos meus ouvidos foi o barulho da chuva, o que já criou uma atmosfera específica e uma certa relutância quanto a sair da cama. Nesse momento, percebi que o dia seria regado a preguiça e vontade de ficar em casa ou, no máximo, encontrar alguém para ver um filme. E tudo bem, sabe. Do mesmo jeito que praia combina com sol, São Paulo combina com chuva e chuva combina com preguiça que combina com domingo, e eu sei que hoje é sábado, mas o sentimento não condiz.
A noite me chamou, mas é que.. eu tou tão bem aqui, tão seco e quentinho, sabe? Que coisa de velho, parei de escrever.

1 de abr. de 2010

a teoria das coisas

É como eu disse: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. E a coisa mais legal é que agora muito mais coisas fazem sentido pra mim, incluindo musiquinhas bobas de amor e clichês do tipo, porque agora ela é parte da minha vida, parte de mim e peça central do meu bem estar.
Tou feliz, de verdade, e por enquanto é tudo o que eu consigo expressar (: