10 de jul. de 2015

briso(a)

Hoje me confundiram com um garoto duas vezes. E na real eu achei isso bem massa. Ia escrever que andam complexas as minhas relações com minha identidade de gênero mas a verdade é que andam mais simples do que nunca. Complexo era quando eu tinha 13 anos e não me identificava com porra nenhuma, ficava envergonhado quando me confundiam com um garoto na frente dos meus amigos porque sentia que isso evidenciava o quanto eu não me encaixava em nada. A fita é que hoje eu só curto zoar com os gêneros mesmo. Tem dias em que eu acho do caralho quando me confundem com um garoto - na real tou pensando seriamente em comprar um binder. Mas tem dias em que eu curto mesmo ser uma garota, dançar como uma garota, transar “como uma garota”, seja lá o que isso signifique, enfim - performar. É incrível como gênero é realmente uma grande performance. Acho que uma vez que internalizei isso comecei a me divertir mais nessas transições, brincar com a cabeça das pessoas ao vê-las com um olhar de questionamento - trazer essa reflexão, algo assim. Gosto de ser desse jeito. Comecei a gostar mais ainda quando percebi que me identificar como mulher não significa falar, sentar e gesticular de uma forma específica que é entendida como “feminina” pelos padrões impostos na sociedade. Eu posso ser a porra da mulher que eu quiser. E a porra do homem que eu quiser também. Não preciso ser agressivo, falar alto, gostar de esportes ou objetificar as mulheres pra me sentir como um cara. Eu posso criar, e diariamente crio minha própria performance, porque jamais vou me sentir confortável sendo uma “mina” e nem um “cara”. Jamais vou conseguir me fechar em nenhum desses conceitos porque eles carregam uma bagagem tão grande de ideologia e construção histórica/social/cultural que sou instantaneamente repelida por meu instinto de auto-preservação da saúde mental, então só vou criando minha própria brisa. Sou eternamente grato a Carina por ter me dado o apelido de “Jay” na oitava série, uma uma solução simultaneamente descolada e neutra. Sério, você não tem ideia de como era foda ser “janaina” nos dias em que eu não me sentia nem um pouco como janaina (que além de tudo rima com menina). Mas também tem dias em que eu me sinto muito Janaina e por mais que as pessoas do meu convívio possam não perceber a ~diferença~, pra mim ela é bem clara. É meu sentimento comigo, um rolê só meu, minha brisinha particular. Idealizo, dirijo e atuo na minha própria performance e assim como um bom ator, aprendo mais a cada espetáculo. Me torno cada dia mais experiente, seguro e confiante dos recursos que possuo.. e isso me deixa feliz pra caralho, sabia? 
and haters gonna hate. fuck their bad vibes. 
nóis
bjs

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